Das madeiras escolhidas até as técnicas adotadas, tudo influencia o som. Não há software para isso
por
Ivan Ribeiro
10 de dezembro de 2023
IG
Lucas Caracik é um luthier, alguém que faz instrumentos musicais. Aqui na Barra Funda (SP), ele produz guitarras e violões um a um. Com os violões enfrenta o seu grande desafio. Justo ele que busca na sua vida exatamente isso: desafios.
No momento que está finalizando uma peça, nas últimas aplicações da lixa, vale toda a experiencia de uma vida. Calculando a força aplicada para desbastar uma invisível rebarba, que afeta a precisão do som que imagina, pois ainda não existe no instrumento. Logo estará concluso e temos mais um instrumento, que unirá sua precisão com o talento de um músico que encantará plateias pelo mundo.
Menos um desafio, amanhã serão outros, como vencer os caminhos da Barra Funda profunda até Pinheiros, pelos caminhos esburacados de São Paulo, sempre de bike. Para cima. Sempre.
Um luthier, além da produção, faz a manutenção, afinação e o ensino. Em 10 anos de profissão, já teve mais de 150 alunos. Ele gosta mais de produzir e ensinar.
Nas guitarras (elétricas) as diferenças entre os produtos industriais e artesanais são menores, porque o som é totalmente produzido em circuitos elétricos. Suas guitarras são conhecidas pela qualidade extrema dos componentes e pelo design, sempre em madeiras. Sua formação como arquiteto (FAU-USP) lhe dá suporte para desenhar peças realmente instigantes. Mas nos violões, em especial sua atual paixão, as violas de 10 cordas, a superação não é na forma, mas no som. Das madeiras escolhidas até as técnicas adotadas, tudo influencia o som. Não há software para isso. Só a experiência do artesão e sua sensibilidade.
Arquitetos costumam ser ávidos usuários de programas de desenho, como tradicional AutoCAD. Lucas é um profissional singular. Seu ofício usa basicamente as mãos.
Mas num novo desafio, está trabalhando em um escritório de arquitetura especializado em projetos de acústica. Trabalho que usa computadores para definir os layouts de auditórios, salas de música, de conferências. Sons diferentes, salas diferentes.
“Como se sente o luthier operando um mouse ao invés de um formão?”, perguntei. Ele disse que usa sua experiencia para projetar as melhores salas, fazendo intervenções que afetam a acústica, como cortes e ranhuras.
Caracik come de tudo, inclusive comida vegana. Mas gosta mesmo é de churrasco. Comenta sobre os novos restaurantes da BF. Quando lhe faço a última pergunta, de onde vem esse interesse por luteria, ele responde de pronto: dos três aos 18 anos morei no interior do Estado e passeava com meu pai, encontrando madeiras de diferentes tipos e texturas. Daí construir instrumentos foi um passo.
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